Auditoria sobre Atenção Básica da Saúde em Municípios e no Estado de Santa Catarina

Realizar auditorias operacionais visando um conjunto de ações de saúde, que abrange a promoção e proteção da saúde, a prevenção de agravos, diagnóstico, tratamento, reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde com o objetivo de desenvolver uma atenção integral que impacte na situação de saúde.

Objetivos da Iniciativa

Identificar os principais problemas que afetam a qualidade da cadeia de  serviços de atenção básica oferecidos em Unidades Básicas de Saúde (UBS),  independentemente dos programas implementados em cada unidade avaliada,  com foco na resolutividade, no acesso, no atendimento e na estrutura, bem como  avaliar as ações governamentais que procuram eliminar ou mitigar suas causas.

Metodologia Adotada

Na fase de planejamento efetuou-se pesquisa documental na internet,  como artigos e notícias veiculadas sobre a matéria em análise e a legislação  correlata, bem como a disponibilização de documentos pela SES sobre os  assuntos inerentes à auditoria. Também foram realizadas entrevistas com a  Secretária de Estado de Saúde e com o Secretário Municipal de Saúde de  Florianópolis, além de reuniões com o Conselho Municipal e Local de Saúde de  Florianópolis e com profissionais da UBS Agronômica para levantamento de  dados a serem utilizados na elaboração dos papéis de trabalhos. Procederam-se  à elaboração da análise SWOT1, Diagrama de Verificação de Riscos (DVR),  Análise Stakeholder2 e Diagrama de Ishikawa3 para melhor compreensão dos  mecanismos de organização e funcionamento do sistema e, essencialmente, para  identificar os principais problemas na atenção básica estadual e municipal. 

Com as informações levantadas, elaborou-se a Matriz de  Planejamento. No período de 28 a 31 de julho de 2014, em Brasília/DF, ocorreu  oficina coordenada pelo Grupo de Auditoria Operacional (GAO) e Tribunal de  Contas da União (TCU), na qual se consolidaram as questões de auditoria de  gestão de pessoas, monitoramento e avaliação e planejamento, comuns a todos  os Tribunais de Contas brasileiros.  

A classificação do Índice de Desenvolvimento do Sistema Único de  Saúde (IDSUS4), de 2012, foi utilizada como critério para definição da amostra  dos municípios a serem visitados na fase de execução. Selecionou-se o município  de Florianópolis como um caso de boa prática (classificação 1) e para as demais  classificações os municípios de Joinville (classificação 2), Canoinhas  (classificação 3) e Araquari (classificação 5), todos com o menor índice de  Atenção Básica – IDAtB.  

Depois de selecionados os municípios a serem auditados, foram  levantados dados no CNES de todas as UBS dos municípios, como o número  total de equipes e profissionais por categoria. Dessa forma, o critério para seleção das UBS foi o número de equipes de Saúde da Família (eSF), conforme  demonstra o quadro a seguir: 

Quadro 1 – Unidades Básicas de Saúde selecionadas para visitas “in loco”. 

UBS Município Critério
Canto da Lagoa Florianópolis Sem eSF
Morro do Meio Joinville Sem eSF
Itapocu Araquari 1 eSF
Campo da Água Verde Canoinhas 1 eSF
COHAB I Canoinhas 1 eSF
Costeira do Pirajubaé Florianópolis 1 eSF
Willy Schossland Joinville 1 eSF
Iririú Joinville 1 eSF
Aci Ferreira de Oliveira Araquari Mais de 2 eSF
Ingleses Florianópolis Mais de 2 eSF
Rio Vermelho Florianópolis Mais de 2 eSF
Nova Brasília Joinville Mais de 2 eSF
Fonte: Elaborado pelo TCE/SC, a partir de dados extraídos do CNES. 

Dessa forma, na fase de execução foram utilizadas as seguintes  técnicas de auditoria: a) inspeção “in loco” em 12 Unidades Básicas de Saúde; b)  envio de questionário eletrônico a todos os municípios do Brasil pelo Tribunal de  Contas da União; c) entrevista com a Secretária de Estado de Saúde; d)  entrevista com os Secretários Municipais de Saúde e Conselhos Municipais de  Saúde dos 4 municípios auditados; e) entrevistas com Gestores, Médicos,  Enfermeiros e Agentes Comunitários de Saúde (ACS) das UBS visitadas; f)  requisição de informações e documentos às 4 SMS, à SES e às 12 UBS; g)  análise documental; h) extração eletrônica de dados; e i) cruzamento eletrônico  de dados. 

Na inspeção “in loco”, foi analisado o espaço físico das UBS visitadas,  atentando para o número e estado das salas, bem como a quantidade de  equipamentos de TI, como computadores e impressoras disponíveis para a  consecução dos trabalhos.  

O questionário eletrônico do TCU foi respondido por 128 gestores  municipais, embora tenha sido encaminhado aos 295 municípios catarinenses. As  questões dividiram-se em 4 temas gerais, de identificação do município e  comentários; 17 de gestão de pessoas; 21 de monitoramento e avaliação e 21 de  planejamento; totalizando 64 questões. Os dados coletados dessa pesquisa foram  utilizados como subsídio para comprovar as situações identificadas na auditoria.

Objetivou-se, com a aplicação das entrevistas: coletar informações na  SES, SMS e UBS para identificar como ocorre, de fato, a dinâmica da Atenção  Básica e colher a percepção do gestor Estadual e dos Municipais para contrastar  com a dos profissionais que atuam nas UBS.  

As demais técnicas citadas, igualmente, foram essenciais para a  obtenção de evidências e para o tratamento das informações coletadas.  As situações encontradas que resultaram em achados de auditoria  foram consubstanciadas na Matriz de Achados, a qual serviu de base para a  elaboração deste Relatório. No período de 29 a 31 de outubro de 2014, em  Brasília/DF, ocorreu nova oficina coordenada pelo GAO e TCU, na qual se  consolidaram os achados de gestão de pessoas, monitoramento e avaliação e  planejamento. 

O Relatório de Instrução foi elaborado com os dados comparativos dos  quatro os municípios auditados, bem como da Secretaria de Estado da Saúde.  Porém, os relatórios de reinstrução, que levam em consideração as justificativas  do gestor, levaram em consideração preponderantemente as informações do  município responsável pela condução da política pública na atenção básica.

1 SWOT – técnica de auditoria utilizada para enquadrar pontos fortes, pontos fracos, oportunidades e ameaças relacionados  a determinado programa de governo ou órgão/entidade (do inglês Strengths, Weaknesses, Opportunities, and Threats).

2 A Análise Stakeholder permite identificar a forma apropriada de participação de todas as partes envolvidas em um  programa ou projeto. Esta técnica é uma ferramenta de grande utilidade em avaliação de programa.

3 Diagrama de Ishikawa é uma ferramenta gráfica para o gerenciamento e o controle da qualidade. Possibilita estruturar  hierarquicamente as causas potenciais de determinado problema, bem como seus efeitos.

4 O IDSUS representa uma síntese de 24 indicadores que avaliam o desempenho do SUS, atribuindo uma nota para cada  Município, Estado e para o Brasil. A nota varia de zero a dez, onde os menores escores representariam as piores posições  na classificação relativa ao desempenho do SUS no Estado ou Município considerado.

Principais Resultados

A primeira questão buscou verificar como as Secretarias de Saúde  atuam para promover a alocação/permanência, a formação e a educação  permanente dos gestores e profissionais da atenção básica. 

Foram identificadas deficiências na elaboração e na execução das  ações de capacitação e Formação dos Gestores e Profissionais da Atenção  Básica, decorrentes da ausência de levantamento de necessidades, ausência de  um Plano de Educação Permanente e a insuficiência na oferta de cursos de  capacitação. 

No que se refere à alocação e permanência verificou-se fragilidades  causadas pela ausência de um plano de cargos e salários, de ações que  promovam a permanência dos profissionais na Atenção Básica e de um  diagnóstico das necessidades de alocação de pessoal. 

A segunda questão da auditoria identificou a ausência ou insuficiência de estruturas e equipes técnicas específicas  das SES/SDR/SMS para monitoramento e avaliação (M&A) da atenção básica  (AB), inexistência de indicadores de insumos e processos no portfólio das  SES/SMS para realização de Monitoramento e Avaliação (M&A) da Atenção  Básica, a deficiência na sua utilização para o planejamento das ações de  saúde, além da ausência de publicidade dos instrumentos de planejamento no site.

Outrossim, foi constatado insuficiência de estrutura de TI (rede, equipamentos de informática e  software, manutenção e suporte técnico), baixa participação dos Conselhos de Saúde nas discussões relativas  ao planejamento, não contribuindo para o exercício do seu papel na  execução das políticas de saúde, segundo estabelece a Lei nº 8.142/11, e deficiências na integração entre os níveis de atenção como falta de  integração dos sistemas informatizados; ausência de apoio e estruturação  matricial para reduzir os encaminhamentos; falta da prática dos  profissionais da MAC em registrar a contrarreferência; e ausência de  controle sistemático após o referenciamento para outros níveis de atenção,  o que interfere no cuidado dos usuários por meio de uma relação horizontal,  contínua e integrada, segundo estabelece o Item 2 da Política Nacional de  Atenção Básica.

Saiba Mais

Auditoria Operacional na Gestão da Atenção Básica à Saúde da Secretaria Estadual da Saúde e dos municípios de Araquari, Canoinhas, Florianópolis e Joinville